Desde que me conheço que as mulheres me inspiram todos os dias. Mesmo tendo passado pelo processo de me masculinizar nos trejeitos e na aparência para esconder a orientação sexual, quando me libertei dessa punição, desafiei-me a descobrir como introduzir referências femininas nos meus looks. Pérolas, unhas pintadas, laços, cropped tops, saias… criei uma luta interna entre o Bruno feminino que quer provocar o Bruno masculino. Essa luta tornou-se um exercício criativo exaustivo, ora compensando as pérolas com uma tshirt mais larga e um estilo mais streetwear; ora vestindo um tweed numa farda operária. Em última análise, tinha de conseguir que qualquer homem hetero olhasse para mim e conseguisse ver a referência de algo com que se identifica e deseje replicar. Esta libertação da minha natureza feminina merecia ser celebrada e fazer um homem convencional gostar de flores, rendas e ombros descobertos tornara-se a minha obsessão. Afinal de contas, o que é que faz um homem ser viril? É a sua personalidade ou são os seus adornos?
E um homem pobre é mais homem que um homem rico?
Apesar do sentimento que me acompanha de não-pertença à classe onde cresci, não posso deixar de me sentir orgulhoso e grato pelas minhas origens. Cresci a ver os homens a usarem fatos de treino, tops de alças, chinelos e t-shirts da INTERFER. A minha avó usava todos os dias - e ainda usa - uma bata de traçar estampada com cornucópias. Mas ao crescer, fui absorvendo também os códigos de uma classe social endinheirada. Sapatos de vela, camisa polo, calças chino, pullover às costas. Tinha algum prazer na dissimulação, em fingir pertencer a um mundo onde a vida parecia ser mais fácil, onde podia conversar sobre arte e onde podia existir um Bruno que nunca tinha existido. O prazer maior aconteceu mais tarde, quando já amadurecido e confiante, nesse tipo de ambiente, passei a combinar calças desportivas com uma camisa clássica ou umas calças de fato com um top de alças.
Sentia-me bem quando usava uns jeans rasgadas num ambiente burguês ou pérolas num ambiente heteronormativo. “Sentia-me bem” talvez seja uma expressão muito forte para descrever essa minha vontade em desafiar padrões, pois a maior parte das vezes sinto-me observado e escrutinado. Mas é uma sensação que vale a pena, pois acredito no que estou a vestir e no que representa a minha forma de vestir, que é a minha história, o espelho de quem eu sou.
Quando decidi lançar uma marca de moda, foi também o momento em que olhei para mim mesmo e rendi-me à evidência do dever de contar uma história que se intercruza em quatro polos: o rico, o pobre, o masculino e o feminino. Queria que essa história se reflectisse num guarda-roupa sóbrio e, ainda assim, provocador. E que todo o homem que se depare com as peças desse guarda-roupa, sinta que encontrou uma ferramenta de expressão para comunicar a sua rebeldia e autenticidade.
A PROTHABITAU nasceu no dia em que me libertei.
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